sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Chegados a Seillons-Source-D'Argens

Chegados a Seillons somos acolhidos ao jantar por um dos nossos anfitriões locais, o Chris. Falamos de Guilgamesh, das versões e das traduções e de Jean Bottéro, o primeiro tradutor francês. Conta-nos como, aqui bem perto, em Saint-Maximin, cuja vista alcançamos da varanda, Bottero ainda jovem, conhece o padre dominicano Marie-Joseph Lagrange um exegeta crítico que, ao que parece, ali chegara por motivos de saúde. Anos antes, no final do sec XIX , fora enviado à Palestina para fundar a Escola Bíblica de Jerusalém, incumbindo-lhe a tarefa de comprovar a veracidade histórica do texto bíblico numa altura em que as consecutivas descobertas arqueológicas refutavam ideias feitas, herdadas de preceitos religiosos e não de factos históricos comprovados. A Igreja não podia perder a dianteira na confirmação dos seus postulados. Mas os resultados dos estudos que chegam do Médio Oriente dizem claramente: a Bíblia é uma coisa, os factos históricos são outra. Estas conclusões são rechaçadas pelas autoridades eclesiásticas e, durante muitos anos, Lagrange não publicará o seu trabalho. Em 1932, depois de ser ordenado, Jean Bottéro vem viver para o priorato dominicano de Saint Maximin. Conhece Lagrange e torna-se seu discípulo nos estudos mesopotâmicos que o levarão a refutar também a veracidade histórica do Génesis e, mais tarde, na sequência da sua integração no Centre National de la Recherche Scientifique, ao seu retorno à condição laica. Torná-se-á uma autoridade na descodificação do antigo acádico, traduzindo o Épico de Guilgamesh. Saint-Maximin é aqui ao lado, ali, no sopé da colina.

NN



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